sábado, 8 de março de 2008

dia internacional da mulher #2

a delfina

delfina tinha sete anos quando concluiu a quarta classe
com distinção. era pobre como a maioria das pessoas da aldeia. a professora propôs que fosse para um colégio religioso. um dia, apresentou-se ao pároco que foi peremptório:
- nenhum dos teus irmãos estudou. és tão novinha e dás tanto jeito à tua mãe para cozinhares lá em casa!
e assim foi. delfina nunca estudou e conta-me isso com mágoa. aos 17 anos, casou à distância com o sr. Manuel. ela em Lisboa, ele em Angola. passadas algumas semanas foi ter com ele. nunca trabalhou. o sr. Manuel tinha medo que delfina ganhasse mais que ele...
hoje tem 71 anos. desabafa comigo, enquanto bebemos um chá dente-de-leão, no serviço chinês oferecido pelo marido.
sempre se sentiu controlada. primeiro pelos pais. quando se tornou mulher, foi
transferida para o marido. não consigo deixar de pensar no que ela me contou. culpar delfina por se ter conformado, por não ter lutado por aquilo que realmente desejava seria mais fácil que culpar uma sociedade machista, que funcionou como espartilho às mulheres. mas... este passado não é ainda presente?

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